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Justificação Diante de Deus: A Oração Simples Que Mudou um Destino

  • Foto do escritor: Assessoria Jaczpe
    Assessoria Jaczpe
  • 15 de mai.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 16 de mai.


Orando para a Justificação
“Você Confia na Sua Justiça? Descubra Por Que o Publicano Foi Justificado”

“Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.” — Lucas 18:13-14


Introdução


A breve parábola do fariseu e do publicano, contada por Jesus em Lucas 18:9-14, é um golpe direto na arrogância espiritual e um convite à humildade que define o coração do Evangelho. Nestes dois versículos finais, Jesus conclui com uma afirmação surpreendente: o publicano, e não o fariseu, desceu justificado. Tal declaração escandalizou seus ouvintes do primeiro século, como ainda confronta nossos sistemas religiosos e culturais até hoje.


Neste artigo, exploraremos o contexto histórico, os elementos teológicos e a aplicação prática desse texto sob a lente da teologia protestante. Também cruzaremos outras passagens bíblicas e ouviremos vozes teológicas que nos ajudam a compreender a profundidade desse ensino.


1. O Cenário: Dois Homens no Templo


O Fariseu e o Publicano


Jesus apresenta dois personagens distintos. O fariseu representava a elite religiosa. Eram conhecidos por sua dedicação rigorosa à Lei mosaica e às tradições dos anciãos. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, os fariseus eram admirados por sua piedade e influência religiosa e social (Antiguidades Judaicas 13.10.5).


Já o publicano era desprezado pelos judeus. Eles eram cobradores de impostos para o Império Romano, muitas vezes enriquecendo por meio de corrupção e extorsão. Na visão popular, eram traidores e pecadores públicos (cf. Lucas 5:30, Mateus 9:10-11).


Jesus escolhe propositalmente dois extremos sociais e espirituais. A audiência presumiria que o fariseu seria aceito por Deus — mas Cristo subverte essa expectativa.


2. A Teologia da Justificação: Centralidade da Graça


A afirmação “este desceu justificado para sua casa” é uma das mais ricas declarações da doutrina protestante da justificação pela fé somente (sola fide), um dos pilares da Reforma.


O termo “justificado” (dikaióō) carrega em si o sentido de ser declarado justo diante de Deus, e não de ser tornado justo por mérito próprio. Isso está alinhado com o ensino paulino: “sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5:1).


Martinho Lutero escreveu:

“A justificação é o artigo pelo qual a Igreja permanece ou cai. Quando se compreende que Deus justifica o ímpio por fé, e não por obras, o Evangelho brilha com sua luz plena.”

O publicano, ao reconhecer sua indignidade, lança-se completamente na misericórdia divina. Ele não apresenta mérito, apenas um coração contrito. E é este que é aceito por Deus. Aqui vemos refletida a promessa de Isaías 66:2:


“...mas olharei para este: para o pobre e abatido de espírito, e que treme da minha palavra.”

3. Humildade vs. Autossuficiência Religiosa


O contraste entre os dois personagens também revela dois caminhos espirituais: o da autoconfiança e o da humildade. O fariseu agradece a Deus, não pela graça, mas pela própria justiça. Seu discurso revela um coração centrado em si mesmo: “jejuo duas vezes por semana, dou o dízimo de tudo”. Ele compara-se com os outros, especialmente com o publicano.


Em contraste, o publicano permanece “de longe”, não ousa levantar os olhos, e clama por misericórdia. Essa atitude é ecoada no Salmo 51:17:


“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.”

A teologia protestante enfatiza que a salvação é dom gratuito de Deus (Efésios 2:8-9) e que o orgulho espiritual é um obstáculo ao Evangelho. João Calvino observou:


“A humildade é o único solo fértil onde a graça de Deus germina. Os arrogantes, mesmo que religiosos, estão fora do alcance da justificação.”

4. A Linguagem da Oração: “Tem Misericórdia de Mim”


O verbo grego usado aqui para “tem misericórdia” é hilaskomai, o mesmo termo ligado à ideia de propiciação — o apaziguamento da ira divina por meio de um sacrifício (cf. Hebreus 2:17). Assim, o publicano não está apenas pedindo compaixão, mas implorando por expiação — por perdão substitutivo.


Essa linguagem ecoa o sistema sacrificial do Antigo Testamento, onde a culpa era removida por meio do sangue derramado. No contexto neotestamentário, isso aponta para Cristo como nosso propiciador (Romanos 3:25), o cordeiro que tira o pecado do mundo (João 1:29).


O publicano antecipa o coração do Evangelho: ele entende que não pode oferecer nada, a não ser sua culpa, e clama por um substituto que lhe garanta o perdão.


5. A Reversão do Reino: O Humilde Será Exaltado


A conclusão de Jesus reafirma um princípio repetido nos Evangelhos:


“Qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado; e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.”

Este é um dos temas centrais no ensino de Cristo. Em Lucas 14:11, Jesus declara algo idêntico. Em Mateus 23:12, Ele o repete aos líderes religiosos. Isso reflete o padrão do Reino de Deus: uma inversão radical dos valores humanos.


Na teologia do Reino, como ensina o teólogo George Eldon Ladd, os pobres de espírito, os quebrantados e os humildes são os que herdam as promessas de Deus — e não os autosuficientes.


6. Aplicações Contemporâneas: Uma Teologia da Dependência


O ensino de Lucas 18:13-14 continua urgente em nossos dias. Vivemos em uma era de performance, visibilidade e meritocracia. Infelizmente, isso também invadiu a espiritualidade cristã. Corremos o risco de transformar nossas disciplinas espirituais em moedas de barganha com Deus.


A oração do publicano nos lembra que a verdadeira espiritualidade começa no reconhecimento da nossa miséria sem Cristo. O orgulho religioso é tão nocivo quanto o pecado escancarado.


Aqui estão algumas aplicações práticas:


  • A devoção deve nascer da gratidão, não da pretensão.

  • A oração deve ser honesta, não performática.

  • A fé autêntica é marcada por dependência, não por merecimento.


John Stott escreveu:


“Antes que possamos ver a cruz como algo feito por nós, precisamos vê-la como algo feito por causa de nós.”

7. Justificação e Santificação: Implicações Teológicas


Do ponto de vista protestante, a justificação é um ato judicial de Deus que declara o pecador justo com base na justiça de Cristo. A santificação, por outro lado, é um processo contínuo de transformação. O publicano foi justificado, mas seu clamor evidencia uma postura que deve caracterizar toda a caminhada cristã.


Como lembra J. I. Packer:


“A justificação não é o final da jornada cristã, mas o início. O mesmo coração contrito que recebe a graça deve sustentar-se nela por toda a vida.”

Conclusão: O Clamor Que Deus Ouve


Lucas 18:13-14 não é apenas uma lição moral, mas uma janela para o coração de Deus. O publicano nos ensina que a oração que Deus ouve é a que nasce de um espírito quebrantado e contrito. A justificação não é prêmio de mérito, mas resposta à fé humilde.


Diante disso, somos chamados a uma postura constante de humildade, não apenas no início da fé, mas ao longo de toda a jornada cristã. A reforma protestante nos legou o reconhecimento de que a justiça que nos salva não é nossa, mas de Cristo — imputada a nós pela fé.


Que possamos, então, viver como publicanos arrependidos e justificados, andando com humildade diante de Deus, confiando inteiramente em Sua graça, e anunciando a outros que o caminho da vida está aberto — não para os justos aos seus próprios olhos, mas para os que batem no peito e dizem: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!”

 
 
 

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